O limpador lingual deve ser obrigatório, pois é tão importante quanto a alimentação e a higiene bucal
Assim como usar perfume forte para disfarçar o cheiro do suor, chupar balas e mascar chicletes é uma solução inócua quando se quer driblar o mau hálito. O jeitinho tem efeito contrário e só potencializa o problema. Mas toda regra tem exceção, pelo menos no caso do chiclete (sem açúcar). Seu uso é liberado de forma controlada (de 10 a 15 min) para melhorar a produção de saliva, evitar o ressecamento bucal e contribuir para um bom hálito.
Mas o importante é deixar claro que o uso de artifícios – sprays e enxaguatórios, por exemplo – de nada adiantam se a causa do problema não for tratada, como a saburra depositada na língua, destaca Daiane Rocha, presidente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca (ABPO). A entidade realizou ontem a medição gratuita do hálito dos fortalezenses, como parte da programação do Dia Nacional de Combate ao Mau Hálito, transcorrido dia 22.
Qual a influencia das bactérias proteolíticas como um dos fatores que geram a halitose?
Essas bactérias usam a proteína como seu “alimento”. Existem na boca principalmente na língua e nos sulcos gengivais (entre a gengiva e o colo dos dentes), sendo responsáveis por outros processos além da halitose (são as vilãs da doença periodontal). No caso das presentes na língua, elas se alimentam das proteínas disponíveis e “quebram” as moléculas de proteínas, transformando-as em aminoácidos sulfurados ou sulfurados voláteis. Sempre que elas se alimentam de proteínas, liberam substâncias derivadas de enxofre para o meio externo, podendo ser percebidas no hálito e na respiração. Esse é um dos principais mecanismos de formação do mau hálito, embora não seja o único. Sempre que comer proteínas em excesso, é preciso fazer uma boa limpeza a fim de remover a saburra depositada na língua e evitar que não se transforme em enxofre.
Até onde a hipossalivação influi na qualidade do hálito?
As alterações salivares são as principais responsáveis pela ocorrência da halitose, tanto a hipossalivação (baixa produção de saliva) quanto as alterações relacionadas à qualidade da saliva(grossa ou viscosa). Em geral, existem hábitos que ajudam a prevenir, embora após instalada a hipossalivação, apenas o tratamento resolva o problema, através do uso de técnicas mecânicas, gustatórias, químicas, farmacológicas ou eletrofisiológicas para a estimulação de uma glândula.
O que pode ser feito para solucionar tais problemas?
Beber pelo menos 1,5 litros de água/dia (de forma fracionada e não deixar a boca ressecada); evitar alimentos que ressequem (comidas ou bebidas muito quentes, salgadas ou condimentadas); evitar substâncias com álcool na composição; optar por alimentos duros e/ou fibrosos (a maçã tem ação detergente natural. É dura e tem fibra na casca); mastigar bem os alimentos (e produzir mais saliva); diminuir o estresse diário (aumenta a produção de adrenalina); evitar drogas que ressecam a boca (antibióticos, ansiolíticos e antidepressivos).
Até que ponto o consumo de álcool pode prejudicar a qualidade do hálito?
O álcool é o maior veículo causador de ressecamento bucal que existe. Ele provoca uma intensa descamação das células bucais (que pelo ressecamento sofrem desidratação; descamam e caem na língua, o chão da boca) as quais são ricas em proteína e aumentam a saburra lingual. Deixam as bactérias com um ´banquete´ de proteínas para serem transformadas em enxofre.
Quais os malefícios causados pelo fumo?
O fumo tem dois problemas. Várias das substâncias químicas presentes na composição são derivadas de enxofre (como o enxofre é muito volátil, ou seja, evapora com facilidade, ele é facilmente exalado pelo hálito). Além disso, quando se fuma, existe a produção de calor intenso na boca, ajudando no processo de ressecamento bucal e tudo que foi dito acima se repete.
E sobre os alimentos muito quentes, salgados ou condimentados?
Mais uma vez, o ressecamento bucal. O calor, o sal ou o excesso de condimentos como pimentas e molhos, principalmente os mais picantes ou fortes, também deixam a boca seca, contribuindo para o mau hálito. Vale salientar que não é só uma xícara de café que vai alterar o hálito. Mais uma vez é o somatório. Na presença de outros fatores complicadores, o café pode ser o elemento que faltava para o ressecamento ficar mais acentuado.
Apesar da sua importância, o limpador lingual ainda é pouco conhecido da população.
Infelizmente ele não é muito recomendado pelos dentistas como deveria. São poucos os profissionais que insistem em seu uso como algo realmente importante. A limpeza da língua em si ainda não é falada. Imagine você limpar toda a casa, tirando o pó dos móveis, limpando paredes e teto e sem, no final, limpar o chão? Pois é o mesmo caso. A língua obrigatoriamente, pois grande parte das bactérias ficam retidas na saburra.
Por que optar pelo uso do limpador e não da escova?
Não é que não possa limpar com a escova, mas ela não foi feita para isso; não tem a mesma eficácia que o limpador pela sua própria anatomia e características. O limpador foi desenvolvido especificamente para tal uso, feito de um material rígido e com uma ponta ativa (os bons são assim) e faz parte do processo para que a limpeza da língua seja eficiente. A escova não limpa tão bem quanto o limpador e sobre isso já há comprovação de inúmeras pesquisas. Além disso, é um item a mais, mais trabalho, mais custo e grande parte da população ainda nem usa fio dental. É mesmo só a escova, enquanto nas populações mais carentes, uma mesma escova é usada por toda família. Como indicar o uso de mais um produto? É um item essencial para a limpeza, especialmente para prevenir o mau hálito, pois o problema principal está na língua e não tanto nos dentes.
A escova dental deve ser trocada com qual freqüência?
Depende da quantidade de vezes que a pessoa escova por dia, da força utilizada, do tipo de cerda, mas no geral, pode-se dizer que é entre 2 e 3 meses, no máximo. Sobre os cremes dentais, eles são apenas auxiliares na escovação, pois quem remove mesmo a placa é a ação mecânica da escova. Entretanto, se o creme dental tiver em sua composição uma substância chamada ´triclosan´ associada ao ´gantrez´ ou ao ´citrato de zinco´, ele passa a ter ação química, ajudando a retardar a formação da placa bacteriana (mas somente quando o triclosan está junto com uma dessas outras 2 substâncias). Deve-se evitar o uso contínuo de pastas muito abrasivas (como as branqueadoras em geral) que podem danificar o esmalte dental, pois vão ´lixar´ sua superfície e, com o tempo, pode gerar sensibilidade dental. Não costumo recomendar o uso diário, por exemplo.
E sobre o uso de enxaguatórios e sprays?
Nenhum desses produtos melhora a produção de saliva. Mas se tiverem álcool em sua composição (alguns dos mais famosos possuem) eles podem prejudicar e muito a qualidade do hálito, contribuindo para o surgimento da halitose (pois causam ressecamento bucal intenso). Os sprays só servem para mascarar o problema. É muito importante lembrar que usar cheiro forte sobre o hálito que já está alterado não funciona. Em quem não apresenta mau hálito, o uso de sprays ou bochechos (sem álcool) pode promover refrescância bucal ou prolongar um hálito agradável, mas nunca eliminará um mau hálito que já está instalado na cavidade bucal.
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=57499